Essa gente - Chico Buarque [Resenha]


por Matheus Souza

Lançado pela Companhia das Letras, “Essa gente” de Chico Buarque é um romance que foi lançado nesse ano e ainda assim retrata acontecimentos de 2019 (por mais que a gente esteja no final do ano, isso é de surpreender).

O livro é a história de Duarte (Buarque, oi?), um escritor que está em crise, prestes a ser despejado, mal consegue se relacionar com seu filho e com pequenos problemas com suas ex esposas. Em forma de um diário e bilhetes perdido a história alterna entre a perspectiva de Duarte com a de outras personagens, como sua ex esposa.

Uma espécie de tragicomédia, esses diários que datam de 2018 até 2019 consegue emoldurar situações intensas desse período de eleição/pós eleição, que se destacam pela polarização. A violência aqui são referências evidentes aos tristes episódios que vivenciamos, tais como dos militares que com 80 tiros mataram um músico, claro que de uma maneira sutil e inteligente, típica do Chico.


É admirável a maneira como Chico Buarque consegue amarrar diversos pontos do livro que até então podem passar despercebidos, outra coisa interessante é justamente como lida com a atualidade, similar ao de uma crônica, o que me faz pensar que o fechamento do livro foi como algo que acaba de sair do forno, com um certo frescor.

Esse é o primeiro livro que leio de Chico Buarque, até então conhecia apenas suas músicas, mas fiquei encantando com sua perspectiva de uma maneira dinâmica e atual. Se assim como eu, você só conhecia as letras e músicas do autor, acredito que possa ser um bom primeiro contato com sua obra literária.

Chico Buarque sempre foi um crítico ao sistema, desde os tempos da ditadura. Eu demorei para entender e gostar do trabalho dele, aos 13 anos achava ele um velho chato, mas hoje vejo a sua relevância. Recentemente, Chico ironizou Bolsonaro, que ameaçou não assinar seu diploma para o prêmio Camões, na situação Chico disse que isso seria um segundo prêmio (li em algum lugar que o prêmio Camões ignorou o fato de Bolsonaro não ter assinado), isso só reforça a figura de Buarque como um questionador e opositor ao sistema autoritário e discriminatório, coisa que fica muito bem condensada em seu livro.

ALERTA DE SPOILER
PS: Só eu ou mais alguém achou que o livro tem um plot twist similar ao do livro "A Viagem de James Amaro" de Luiz Biajoni?

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