O estranho zoológico urbano de Luis Capucho

Foto  por: Maria Isabel Oliveira

Compositor lança Crocodilo, quinto disco de inéditas

Surgido na cena musical underground fluminense-carioca no início dos anos 1990, Luis Capucho, nascido em Cachoeiro do Itapemirim (ES) e morador de Niterói (RJ), podia ser o novo Caetano Veloso. Mesmo com poucos shows no currículo, a crítica da época apontava semelhanças no tom e nos temas escolhidos. Porém, em 1996 uma reviravolta mudou a perspectiva sobre a carreira do cantautor: em decorrência de uma neurotoxoplasmose, foi severamente entubado e descobriu a AIDS. Com a voz muito comprometida e limitações motoras, partiu para a literatura, manancial familiar, devido a formação em letras na Universidade Federal Fluminense - UFF. Escreveu livros, mas, felizmente, não deixou morrer o fluxo musical, adaptando-se à nova voz e explorando temas tabus, tornando-se um artista singular na literatura e na música brasileira das últimas décadas. A epítome de maldito se consolida neste novo trabalho, lançado no dia 6 de dezembro: Crocodilo.
“Eu não chamaria um disco meu de Crocodilo, não teria essa ideia, mas o nome acabou ficando e, agora, ele engole todas as suas outras músicas, desde a primeira, ‘Antigamente’, à última, ‘Virgínia e eu’. Foi ideia do Felipe Castro, produtor do meu último disco, Poema Maldito, de 2014. Aí o Bruno Cosentino, que produziu Crocodilo, distribuiu para outros artistas da música as faixas desse disco, então acabou sendo quase um projeto coletivo onde, surpreendentemente, a gente encontrou uma unidade baseada na liberdade e beleza, mesmo na miséria e no desencanto desse momento no Brasil”, explica Capucho. O disco foi finalizado na véspera da soltura do ex-presidente Lula e, segundo o compositor, as faixas “fazem parte desse mesmo ímpeto, do mesmo fluxo de movimento das coisas que têm de ser livres”.




Crocodilo tem 10 faixas e participações especiais de Gustavo Galo, Julia Rocha, Lucas de Paiva, Claudia Castelo Branco, Bruno Cosentino, Marcos Campello, Evaldo Luna e, claro, Pedro Carneiro, conhecido como Vovô Bebê, que esteve à frente do projeto como um todo, alinhavando detalhes e produzindo as faixas. Além da canção título, temos uma chamada “Girafa” e outras que fazem menções a insetos, pássaros, morcegos. “Esses bichos são ao acaso, e se impuseram ao disco. Então, fazem sentido, porque eu mesmo sou um animal”, diz Capucho. “Há esse ar de superioridade irritante de algumas pessoas quando estamos todos aqui, tristes com o que vemos e prontos para morrer. Mas ainda há fome, sede e vontade de viver; comer uns humanos, aplacar nossa raiva”, sugere.
Apesar dos fãs famosos, declarados e incondicionais, como Cássia Eller (que gravou “Maluca”, de autoria de Capucho), Ney Matogrosso, o jornalista Cadão Volpato, o poeta Eucanaã Ferraz (que o comparou a Tom Waits e Leonard Cohen), o compositor Pedro Luis, o crítico Tári de Souza, ou os músicos Wado, Daúde e Rogerio Skylab, entre muitos outros, Luis Capucho segue trajetória de maldito, pouco conhecido do grande público, tocando em poucos lugares e com pequeno destaque na mídia. “Na verdade, eu falo pra todo mundo. Minhas músicas ou livros não são direcionados. E por conta do modo como as coisas se dão socialmente, meu público ficou mais selecionado. Mas cada um na sua, tem pra todo mundo”, conclui Capucho.



Saiba mais:
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