O novo Blade Runner canta rap e é brasileiro [Entrevista]

Foto por: Tiago Santana

- por Matheus Souza -


Yannick Hara é o Caçador de Andróides, em seu novo trabalho, o rapper explora do cyberpunk e do aclamado Blade Runner para se expressar de forma conceitual sobre assuntos pertinentes nos dias de hoje, tais como se estamos vivendo ou somos apenas máquinas programadas para trabalhar, tudo de uma maneira muito poética e que se intensifica a cada batida. O albúm conta com diversas participações, como a de Rafael Carnevalli e Clemente Nascimento (da banda Inocentes).

Para comemorar o lançamento, desse que é o segundo disco do cantor, Yannick Hara se apresentará no Sesc Belenzinho dia 31 de janeiro, em um show que promete misturar elementos da ficção científica com o universo do cyberpunk. Para contar mais sobre esse show e, Yannick, o caçador de andróides, conversou com a gente.

No repertório, músicas que remetem ao universo cyberpunk, num futuro distópico. Performático, o artista apresenta um show teatral e com efeitos especiais. A linguagem e o conceito da Cultura da Ficção Científica também estão presentes no show, cujas músicas versam sobre as relações humanas, a alta tecnologia e a baixa qualidade de vida.

Matheus: Yannick, por quê Blade Runner? O que te inspirou na obra?

Blade Runner foi um dos primeiros filmes de ficção científica que vi na infância. Lembro perfeitamente do meu pai reunir a família para assistir o filme e lembro também dele colocar o vinil da trilha sonora de Vangelis para eu ouvir, fiquei fascinado pela construção musical e todos os elementos sonoros ali presentes. O que me inspirou na época além da trilha foi a narrativa do filme, em perceber que o futuro da humanidade estava fadado ao fracasso. Eu ainda não tinha idéia o que era "distopia". Anos mais tarde fui entendendo melhor o filme e pude ter a oportunidade de ler o livro, foi ai que decidi que deveria escrever o disco sobre a obra literária e o filme.

Na literatura e no cinema quando se referiam a 2019/2020, como futuro, imaginou-se a existência de carros voadores e outras tecnologias, mas ainda lutamos contra questões de séculos, como o preconceito, a violência e vemos o ressurgimento de ondas fascistas (os galinhas verdes), negação da história e outras demências, isso frustra o caçador de andróides?

Com certeza, as pessoas tendem a olhar o futuro apenas com esse olhar tecnológico em que o progresso parece estar. O que é mais importante, carros voadores ou o fim da fome no mundo? Esta narrativa no filme é só um pano de fundo, não é a essência dele. Olha como o mundo é em 2019 no filme, caótico, sem a luz do sol, chovendo o tempo todo, o clima totalmente destruido. A pergunta fica, como o mundo chegou a esse ponto? A resposta é exatamente esta descrita na sua pergunta.

Me conta como foi produzir o clipe “Blade Runner” ( que conta com participação especial de Rafael Carnevalli), quanto tempo levou de produção para o vídeo?



Conheci o diretor Vertin Moura, que também é ator através de um amigo em comum. Passamos uma tarde junto e a identificação foi imediata. Queria muito que o primeiro videoclipe do disco tivesse um olhar cinematográfico, e sabia que precisaria me conectar com profissionais do cinema para isso. Tivemos diversas reuniões, escolhemos a equipe, ele o Vertin, escreveu o roteiro muito inspirado no filme, porém não queriamos copiar o que o filme apresenta e sim trazer um olhar paulistano sobre Blade Runner. Levamos aproximadamente 1 mês, 1 mês e meio entre pré produção, gravação, edição e pós e creio que conseguimos descrever o que a música quer passar.

Percebi que no clipe existe algumas preocupações, como a da dança, que dialoga muito bem com o cenário e atmosfera do trabalho, como foi adaptar essa personagem e seu universo?

A dança é um dos movimentos mais sensíveis e maravilhosos que a arte pode narrar através do corpo. Sempre quis alinhar a dança com o meu trabalho, isso já vem das performances do EP Também Conhecido Como Afro Samurai que lancei em 2016, dou muito valor para performance, quero evoluir demais nessa área artística na minha vida e carreira. Adaptar isso ao videoclipe de Blade Runner foi só demonstrar a minha visão em traduzir através do corpo o que quero expressar através das palavras.

Uma das minhas faixas favoritas do novo albúm é “Eu Sei o Que É Real”, uma versão de Blue Monday (do New Order), o que te levou até ela?


Estava numa pesquisa sobre o synth pop, queria muito navegar por esse mar sonoro que é a musica eletrônica, algo que tenho forte influência, sou de 84 e vi tanto o rock, como o rap e a música eletrônica emergir. Já conhecia a banda New Order e numa dessas pesquisas ouvi a música "Blue Monday" e lembrei dela. Sabe aquelas músicas que você já ouviu um dia, mas não vai a fundo conhecer? Pois bem, "Blue Monday" foi uma dessas, e o mais louco que na época que decidi fazer essa versão, comecei a ouvir essa música nas ruas, nas baladas perto e interpretei isso como um "sinal" (risos).

O que o público pode aguardar do show de lançamento do “Caçador de Andróides”?

Um verdadeiro espetáculo performático e musical.

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Mais Informações sobre o show de Yannick no Sesc Belenzinho: https://www.sescsp.org.br/programacao/214200_YANNICK+HARA

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